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Dracolfinhos

DRACOLFINHOS

Noite fria de 14 de agosto. Entusiasmados com a explosão de Nova Dolphi, conforme anunciada pelo astrônomo amador japonês Kiochi Itagaki, Alan e eu, aficionados pelos segredos do céu, corremos ter com nosso mestre, que nos recebeu em sua casa de pedra.

Le Tarot des Templiers – Chevalier de Coupes

— Estamos decididamente vivenciando a hora e a vez dos golfinhos, nossos especiais companheiros psiônicos, explicava-nos Sotero. Tanto das profundezas do céu plenestrelado quanto dos esquecidos reinos submersos, são sempre os golfinhos quem estão a nos trazer a boa-nova de sua alegria, influenciando criativamente a consciência coletiva da humanidade.

Alan observou ainda a sincronicidade da descoberta astronômica, ocorrida logo agora, quando cientistas da Universidade de Saint Andrews, Escócia, acabam de admitir que os golfinhos se chamam entre si por seus respectivos nomes.

— E o fazem segundo assinaturas vocais específicas, ajuntei, com o que são capazes de nomear distintamente toda uma série de situações de perigo ou não, bem como alertar seus companheiros quanto à presença de alimentos ou à proximidade de seres humanos, tubarões etc…

— Sim, o extraordinário trabalho acaba de ser publicado no Proceedings of the National Academy of Science, completou Alan (Edição de junho de 2013), que citou ainda outro comemorativo:

— Também a bióloga estadunidense Lori Marino (cujo nome curiosamente nos reporta tanto ao mar quanto à imagem das sereias), diretora executiva do Centro Kimmela de Advocacia dos Animais, em Decatur, Geórgia, E.U.A, há 25 anos pesquisadora do comportamento dos cetáceos, acaba de declarar os golfinhos como seres autoconscientes, razão pela qual jamais devem ser mantidos em cativeiro. Com base nisso, a Índia vem a ser o primeiro país a considerar oficialmente os golfinhos como “pessoas não humanas’, tornando, pois, moralmente inaceitáveis os assim chamados ‘delfinários’, parques aquáticos em que golfinhos são explorados turística e comercialmente.

Le Grand Char des Dragons – Arcane VII, Le Tarot des Templiers

Mestre Sotero que, enquanto conversávamos, mantinha-se debruçado sobre seu Manuscrito Rubedo, entretido em rabiscar selos alquímicos e outras algaravias, levantando os olhos de seu trabalho, sorriu-nos com clara satisfação:

— Golfinhos são dragões missionários do mar, criaturas telepatas que cumprem nos ligar à mente cósmica, fazendo despertar sempre novos esclarecimentos em nossa consciência.

Comentei então ter lido certa vez algo acerca de golfinhos e dragões em seu fabuloso Bestiário Alquímico, composto inteiramente de sonetos acompanhados de suas respectivas iluminuras a nanquim, também tecidas por sua mão.

Sotero sorriu novamente. Observou que a humanidade ainda engatinha socialmente, lembrando que a maneira segundo a qual tratamos nossos animais bem revela o quanto estamos atrasados em termos de consciência planetária. E sugeriu que eu daria com aquilo que procurava lá pelas páginas finais de sua obra. E fez questão de referendar o mapa náutico do cartógrafo sueco Olaus Magnus (1490-1577), outra raridade de seu acervo, clássico bestiário renascentista, todo ele tomado por serpentes marinhas, dragões e outros monstros, além de orcas, baleias e golfinhos que muito lhe haviam inspirado os versos que eu buscava.

E foi à luz da lareira-atanor de sua biblioteca-templo, que naquela fria madrugada de inverno Alan e eu nos pusemos a reler a peça:

 DRACOLFINHOS 

Golfinhos e Dragões são bons parentes,
dois seres da alquimia, em realidade,
porque nas fantasias há verdade,
são ícones-mistério além das mentes.

Golfinhos são crianças, liberdade,
princípio criativo do inconsciente,
são bênção mergulhada em mar de gente
que à tona traz ideias, claridade.

Dragões habitam, pois, outros abismos;
aladas salamandras, quando adultas
são chave da matéria sublimada.

Os dois são do oroboro mecanismos:
Golfinhos vão buscar a Pedra Oculta,
Dragões guardam o Tesouro e pedem a Espada!

C+S.:.
N. N. D. N. N.

Mapa Náutico de Olaus Magnus, século XVI, detalhe.

5 Comments

  1. Maitê Luz disse:

    Estou maravilhada!

  2. Denize Ramos disse:

    Golfinhos… sabia da capacidade de comunicação que desenvolveram, mas não sabia sobre terem identidade.
    Creio que quanto mais bruto o ser humano é, pior ele trata os animais. Tirar a brutalidade primitiva de si, traz nova percepção do universo. Tornamo-nos mais etéreos, o que nos faz amar ao universo como a nós mesmos.
    Maravilhoso este texto. Maravilhosa a caminhada que suas almas fazem.

  3. Patricia Camel disse:

    Conhecia outras lendas e mitos sobre os golfinhos, fiquei agora sabendo sobre os dracolfinhos. O que é pertinentíssimo, afinal minha única e maior experiência com um deles me comprovou exatamente todas as descobertas e muito mais…adoráveis ilustrações, texto e soneto!!

  4. Patricia Camel disse:

    PS – Ah, sim, mais importante: a explosão de uma estrela Constelação de “Dracolfinhos”, próxima a de Taurus e da estrela Andrômeda…

  5. Marina disse:

    Esses textos são verdadeiros bálsamos.
    Fiquei curiosíssima sobre o bestiário de Sotero e de Olaus Magnus.

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