A Voz do Encantamento e a Mitologia Pessoal
“Sim, somos todos heróis da própria jornada, mas isso nada tem a ver com revolucionar o mundo, salvar o planeta de ameaças alienígenas ou sair voando por aí com uma capa azul amarrada às costas; menos ainda devemos crer que a salvação de nossas almas dependa da ação de deuses ou heróis que venham de fora. A grande ação a que devemos, como heróis, nos entregar, não é outra senão aquela que se opera no anonimato de nossos corações, cujo maior ‘poder’ consiste em nos tornar prontos para que, ‘tocados de alegria’, possamos lidar com as adversidades do caminho.
Pois será assim, conquanto sigamos por esta estrada missionária, palmilhando-a de suor e lágrimas, que nos abriremos às situações pelas quais devemos obrigatoriamente passar, indo ao encontro dos arquétipos que guardam respeito à nossa pessoal mitologia, os únicos, a propósito, que poderão nos transformar de modo intrínseco e profundo.
Porque, segundo roga a Psicoterapia do Encantamento, “os mitos só têm sentido quando são sentidos”. Sem experimentarmos nossa mitologia pessoal, nada seremos além de autômatos a cruzar estradas sem destino, meros barcos fantasmas à deriva nos mares oceânicos, falidos robôs computando a esterilidade dos dias e noites sem sentido nem beleza, sem mérito ou poesia. Cada um busque, pois, por sua pessoal mitologia, é ela a chave da mais profunda transformação anímica”. (Paulo Urban)
A VOZ DO ENCANTAMENTO
Eu sou aquele
que sublime ressoa na quietude do ser,
que faz brilhar os olhos d’alma,
que repercute a harmonia das estrelas.
Eu sou aquele
que vibra em sintonia
com a sublime música das esferas.
Eu sou aquele
que está pleno de toda orquestração
regida pela baqueta
do Maestro onisciente.
Eu não estou apenas nas coisas,
nem habito tão somente o teu coração,
mas trago comigo a magia de integrar
teu coração a todas as coisas,
unindo teu ser à Grande Consciência,
real e transcendente.
Porque a alma,
sempre que se descobre encantada,
entrega-se à sua natural Missão;
porque a alma,
quando encantada,
integra-se a si mesma
e se orienta espontaneamente
para a Luz Maior,
cuja essência é divina e curativa.
Eu sou o canto que vem de teu interior,
eu sou o canto profundo da tua alma;
deixa-me entrar em tua vida
e eu a transformarei no mais vivo Santuário.
Paulo Urban, equinócio de outono, MMVII