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Minha Biografilha

UMA BIOGRAFILHA EM SETE PALAVRILHAS

Pequenos somos diante das surpreendentes maravilhas, e sempre que intimamente tocados por elas, vemo-nos chamados a buscar por nossa própria grandeza, capaz de nos alçar à Luz Maior de uma Nova Consciência.

E creio seja esta a tarefa dos gigantes: a hercúlea arte de estarmos sempre a sustentar e manter vivo o Pequeno Príncipe que habita em nossos corações. E é preciso constantemente alimentá-lo para vê-lo crescer com espontânea naturalidade até que se torne ele próprio um bom gigante, cuidando, contudo, para jamais fazer dele um adulto, pois, felizes os que sabem guardar no coração a pureza das crianças.

Refletindo assim, tocado pelos vislumbres que me trazem alguma ideia da dimensão de minha missão terrena, no alinhavado dos passos dados no caminho da existência, sinto-me chamado a declinar aqui algumas das pegadas bem marcadas pelos mestres que não só me orientam como me ajudam a levar adiante esta minha pessoal mitologia, complexarquétipo sobre o qual se estrutura minha humana biografia, cujo maior intuito não é outro senão o de buscar honrar por meio dela os ancestrais valores que me nutrem, bem como fazer desta minha humanestória uma honesta herança espiritual a ser deixada, sobretudo, à minha filha, a propósito, ela sim uma ‘alma velha’ que muito mais me ensina do que eu a ela, assim entendo.

Sigamos, pois, as bem cavadas pegadas das pregadas palavras que, cravadas em nossas almas, as fazem impregnadas da libertadora sabedoria dos mestres, desde que empregadas ao exercício dessa nossa liberdade:

“As criaturas que habitam esta terra em que vivemos, sejam elas seres humanos ou animais, estão aqui para contribuir, cada uma com sua peculiar maneira, para a beleza e prosperidade do mundo.”

(Tenzin Gyatsu, XIV Dalai Lama)

“Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser eu, de viver à altura de meu mister, (…) reentrei de vez na posse plena de meu Gênio, e na divina consciência de minha Missão. Hoje eu só me quero tal qual meu caráter nato quer que eu seja, (…). Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou. (…) A superioridade não se mascara de palhaço, é de renúncia e de silêncio que se veste. (…) Um raio hoje deslumbrou-se de lucidez. Nasci.”

(Fernando Pessoa, manuscrito, 21/nov/1914)

E certa manhã de verão, raiado o Sol em meu jardim, havendo eu experimentado à pele d’alma esta bendita clareza do poeta, e tendo ainda lavado meu rosto na singela cuia do velho monge tibetano, foi que me dei por conta de que acordava simplesmente feliz. E abraçando minha matinal leitura contemplativa, saciado que fui pelos bombásticos aforismos de mestre Paracelso (médico alquimistastrólogo que há muito orienta meu pensamento clínico), por meio dele alcei-me à beleza de sua ideia de que todo homem nasce constelado, posto passe a Via Láctea em completude por nosso humano ventre. E assim desperto pelo esclarecimento de suas originais ideias, e ainda inspirado por seu dístico de vida (Alterius non sit qui suus esse potest, a dizer, ‘Aquele que pode ser o que é, que não se perca em seguir os outros’), é que procuro também deixar algumas modestas e bem-humoradas linhas biográficas, versos que resumem meus peregrinos passos dados na esperança de um dia cruzar com alegria de criança o Pórtico da Glória da Sagrada Catedralma.

Paracelso (1491-1543)

Paracelso (1491-1543)

Enfim, é assim que faço: cuido de meus afazeres do meu jeito, sempre buscando, contudo, respirar o ar da vida devotadamente orientado pelas pegadas pregadas na Cruz, também pelas palavras de lavas de Luz com as quais melhor me afino em sintonia e aprendo ser eu mesmo em meu próprio caminhar…

BIOGRAFILHA

(sonetancestral & sonetereditário)

Portugueses não fazem trocadilhos,
mas não por não gostar, por não sabê-los;
diante deles, em lógica a entendê-los,
desfazem as trocas, põem tudo nos trilhos…

Eu não, eu brinquescrevo aos cotovelos,
preposições esqueço se empecihos…
Se chamam atenção meus descarrilhos,
é o trem que é um Guimarães lá dos Curvelos.

Escrevo como eu quero e como eu sinto,
sou dono das verdades com que minto
e finjo ser Pessoa em nua veste;

Sou Paracelso nato em entrelinhas,
sete palavras biografiquinhas:
Alterius non sit, qui suus esse potest!

Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo
13 de março, MMXI – dec. her. 

3 Comments

  1. Diovvani disse:

    Caro amigo,
    Sempre bom ler, reler e refletir sobre seus escritos.
    Sigamos aprendizes.
    Abraço das montanhas para você e Maíra.

  2. dalila neiva disse:

    Paulo, é muito bom refletir sobre o que você escreve, obrigada por essa dádiva, bjs.
    Dalila

  3. Edna disse:

    Limpo, sensível, simples, bonito e bem escrito…

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