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O Eterno Retorno

Nietzsche.0.35Agosto de 1881. Aos pés dos picos nevados de Sils Maria, Suíça, em sua habitual caminhada das tardes de verão, atravessado por extraordinária visão, assim confessava Friedrich Nietzsche (1844-1900) em seu diário: “A seis mil pés acima do nível do mar e muito mais acima de todas as coisas humanas, pensamentos surgiram em meu horizonte, pensamentos tais como eu nunca vi”.

O atormentado filósofo acabara de intuir, elevando seus velhos confrades Heráclito e Parmênides ao grau de imensa síntese num único vértice, que o Universo é todo ele uma só mandalabsoluta cósmica e circular, primordial e atemporal, uma samsareterna e cíclica. Desde o seu primevo frescor e ao longo de sua inexorável dança, o Universo alcança a maturidade plena para depois se dissolver em sua própria decrepitude e assim desaparecer conquanto simultaneamente se renova em seu ressurgir intacto.

Em seu perenestado, o Universo se desfaz e se recria, modificando o amanhã concomitantemente reconstrói todo o passado, fazendo de nossas lembranças mera memória de um surpreendente futuro bem guardado na retina de nossas almas, velhas crianças, arcaicas renascidas de si mesmas. Pois, somos nós este Universo que nos olha. Está em nós a sua origem, sua perdida semente guardada na filigrana do illud tempus, ninho cósmico de todas as estrelas e planetespécies que existem.

arte de Greg Harlin

arte de Greg Harlin

ETERNO RETORNO

O tempo me encarcera na ampulheta
e enruga a cada grão meus epitélios;
o espelho me traduz em livros velhos
que escorrem pelas mãos, breve opereta.

O espelho então me prende em seus conselhos
e diz que “Além do tempo está o planeta
que vê passar incólume o cometa
a semear seus grãos escaravelhos;

Que o bólido perene dos gametas
fecunda o arcaico mito das lembranças
e explode em consciências supernovas”.

E eu vejo nos olhares das crianças,
brilhantes neste espelho em novas trovas,
que o tempo não se prende em ampulhetas!

Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo
4 de junho, MMIV
decassílabos heroicos

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