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Doença e Cura

Publicado na Revista Mirante, edição #89 – (a mais antiga Revista Literária alternativa brasileira, que neste ano de 2015 completa 33 anos ininterruptos de existência)

A DOENÇA

Havia uma mandala só de espinhos
tornando intransponível um coração,
castelo indevassável, um só porão,
masmorras, calabouço e descaminhos.

Chamou-se logo um médico-artesão,
quiçá salvar pudesse os passarinhos
que presos na mandala, em seus ninhos,
gritavam por socorro em solidão.

Seu nome? Paracelso, o alquimista,
astrólogo a velar Sagrado Archote,
que se acercou do doente ao pé do leito:

…palpou, sentiu, examinou-lhe a vista,
e num só gesto, um estalo, um piparote
alterou-lhe o fulcral padrão-defeito.

 

A CURA

Abriu-se então um buquê, mandala em flores,
espinhos recolheram-se e o castelo
que antes era frio, fosso, um só flagelo,
pela primeira vez deixou suas dores

e majestoso ergueu-se, incrível e belo,
crescendo em fortaleza de altas torres,
seus muros tão cinzentos ora em cores
e os pássaros cantando um só libelo,

um hino à liberdade e à cura em festa,
seus ninhos enfeitados de primícias,
de acácias em prelúdio e em pleno gozo…

O médico beijou do enfermo a testa,
ganhou dele um sorriso esperançoso,
e foi-se…, ora a mandala eram delícias.

Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo
14 de maio, MMXV – 5h50min
Decassílabos Heroicos

Obs: Para saber mais sobre a Revista Mirante e do lançamento de sua octogésima-nona edição, clique aqui.

4 Comments

  1. Jane disse:

    Gostei muito do conteúdo. Gosto do tema alquimia e espiritualidade, Paracelso, Jung e Hermetismo. Obrigada por partilhar seus conhecimentos.

  2. Patrícia Camel disse:

    Creio não haver missão mais nobre e talhada a dedo que a do Curador, aquele que nasce com esta capacidade impressa na sua própria Alma. Geralmente, este Médico nato tem ele próprio suas próprias dores e feridas incuráveis, mas por sabê-las tão sábia e profundamente, transfere ao outro, não importa quem ele seja, este seu conhecimento íntimo e compassivo, já que a si próprio prefere dar-se ao esquecimento do EU. Talvez esta minha visão seja um excesso romântico de minha parte, talvez tenha me deixado influenciar pelos belos sonetos acima, ou até mesmo pela leitura excessiva de alguns autores e mitos mais expressivos de diversas culturas, mas de uma coisa tenho certeza, neste Mundo, neste tempo, sejam de corpo, sejam da Alma, sobram-nos doentes porém, infelizmente, faltam-nos “Alquimistas”.

  3. Paulo Urban disse:

    Patrícia Camel: seus comentários são tão bons que devia comentar todos os textos. Beijo grande, muito obrigado por suas preciosas palavras.

  4. Rita Celentano disse:

    “…palpou, sentiu, examinou-lhe a vista,
    e num só gesto, um estalo, um piparote
    alterou-lhe o fulcral padrão-defeito.”

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