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– For me, girl! (Formicósmico)

FORMICÓSMICO

Exercitoperário marcha na perene construção
de seu planetimagem todo dia.

O autômato destinitinerário nunca erra:
há divina precisão nos instintivos passos missionários
com que cumprimos nossa sempiterna humanestrada.

O labirinto revela insólitas paisagens
e nos convida a penetrar no Buraco Negro de sua cosmicalquimia.

Em busca do silente mistério das papisas,
saltamos feito magos no precipício dos poetas
atrás do ancestral segredo que jaz incólume na palavrinterdita,
a mesma que se esconde na língua bífida da sibila,
também nos proteroglifos cravados em nossa pele d’alma,
para sempre ferida desde quando o primevo casal
aceitou se deitar completamente nu
sobre o famigerado formigueirarquétipo proibido.
E ali, sem maldade nem pecado,
tiveram seus quatro pés bem lavados por formigas.

Desta terrena fenda saímos todos com ferrões aos dentes
e vivemos feito insetos desde então,
mal enxergando o chão por onde atônitos corremos
na vã pretensão de um dia voltarmos
ao Grande Formigueiro dos Jardins do Éden,
após termos transformado toda essa nossa chumbexistência,
esse húmus 14 vezes mais pesado que o carbono radioativo.

E até que descubramos o néctar do Graal,
até que saibamos onde nasce a linha
de nossa perdidestória, seguimos assim,
monges trapistas, sagrados peregrinos a circular no Samsaroboro,
malhando a forja de Hefesto com o fogo Vestal
roubado de Zeus por aquele que nos prometeu dias melhores,
à espera do advento das cigarras que nos soprarão, quem sabe,
seu mavioso canto libertário, capaz de a tudo sublimar, inclusive, nossa sina.

Mas enquanto não vêm as cigarras, semprimperfeitos,
seguimos visitando diuturninteriormente a matéria
em busca do secreto lápis-lázuli capaz de nos alforriar
desta insaninfinita tira de Möebius,
roteiro que religiosa e inconscientemente traçamos
sem dar conta de que somos de Deus os seus melhores formigalquimistas.

– FOR ME, GIRL!

Ao mestrescritor André Carneiro,
que me ensinou a conversar com as formigas.

“Formiga & Formigueiros Confraria”:
exército operário das entranhas;
insetos que ao contrário das aranhas
fabricam coletivamente o dia.

Antenas societárias artimanhas,
formigas são robôs em alforria,
são livres liliputtis-correria
cavando a terra em Gulliver-montanhas.

Formigas traçadeiras rasgam folhas,
carregam sobre as costas seu trabalho,
desejam Vita Longa à sua Rainha!

Somos formigas todos entre escolhas
correndo o labirinto de um baralho
sem nunca em quatro naipes dar com a linha!

Paulo Urban
23 de outubro, MMX
decassílabos heroicos

Imagem: Animação sobre a “Tira de Möebius II”, do holandês M.C. Escher, 1963

3 Comments

  1. Maitê Luz disse:

    Báááááhhh, Paulo, me deu angústia!
    Bjks, sempre te seguindo, te adimirando e tendo orgulho em poder compartilhar de teus poemassegredossentimentos.

  2. Tony Gandra disse:

    Meu querido Amigo da Alma! Viajei nessas linhas entrelaçadas de sua cosmicamenterreal; e de nosso ancestral hábito monástico já despidos, de quatro sobre o formigoscópio atual, temos criado asas para pairarmos acima do Bem e do Mal!

  3. JORGE MATIAZI disse:

    Paulo Urban,

    O poeta é sem duvida uma alma privilegiada, descrevendo o cotidiano em estrofes e rimas,
    fazendo com o som, a doce melodia em prosa ou cantada, nos versos de amor ou de dor, que nos conforta e ensina, que ilumina-nos , esclarece e nos leva para cima!

    Parabéns poeta , que na Psicoterapia nos encanta pela sabedoria que aplica , que na poesia demonstra a nobre alma que agita!

    Abraços

    Jorge

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