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Cruzadamante

Com a posição enfraquecida dos cristãos, o ano de 1187 foi marcado pela cruenta reconquista de Jerusalém pelos duzentos mil soldados a comando do astuto sultão curdo Salah Al-Din (1138-1193), que cercaram a cidade, capital do Reino Latino do Oriente, e a tomaram após meses de prolongado e sanguinário combate, dado à brava resistência organizada pelo Cavaleiro de Cristo Balian de Ibelin, que forçou com que Saladino recorresse à diplomacia, mais do que às armas, para ter Jerusalém o quanto antes de volta. Negociada a trégua, o sultão concordou em deixar regressar a Europa todo cristão que lhe pagasse um pequeno resgate, anistiando, porém, deste imposto de salvo-conduto todas as crianças, mulheres, velhos e mendigos e escravos que habitavam a cidade.

Eu, cavaleiro mercenário nórdico, perdido naquele sem-fim-do-mundo, entre pobres e nobres cruzados de expressiva maioria francesa, antes de entregar aos muçulmanos meu indulto de alforria, naquela noite, véspera de minha partida, fui ter com Shera Al-Zhora, linda ex-princesa muçulmana por mim aprisionada, minha inesquecível recompensa perdida. Tivesse a paz firmada entre Saladino e Balian vingado além de suas próprias pessoas, Jerusalém talvez se tornasse para sempre, mais que uma terra divina, um lugar onde os homens todos se entendessem.

Sim, é o amor que nos torna a todos iguais: é o aceitar das diferenças, a ponte entre abismos, o luminoso beijo de entrelaçalmas. Conquistador conquistado, mercenário derrotado, o maior prêmio em toda a minha vida, agora também a maior das minhas perdas naquela maldita cruzada, estava ali, olhos negros bem pintados por detrás do véu, sensualmentislâmica deitada à minha frente…

Cruzadamante.0.22

CRUZADAMANTE

Despi-me ainda estava no teu pórtico;
deitei a espada nua sobre a clave,
as botas descalcei e em passo grave
cruzei circuito límbico sub-córtico

e entrei prumo excitado em tua nave.
Desfiz-me da armadura estilo nórdico
e amei-te igual guerreiro – estilo sórdido -,
rasguei-te então as vestes ‘trás da chave

e abri o teu baú de ouro Templário.
Cruzado cavaleiro eu te conquisto,
tiro o véu de teu rosto e vejo bem

que a Lua em teu olhar tem brilho misto:
é Cruz, é Cimitarra, é Santuário,
cravando em nosso amor Jerusalém!

Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo.

One Comment

  1. Paulo, estou simplesmente encantada com a tua página e com a quantidade de assuntos nela tratados. Os temas que abordas são os que gosto, a começar por tudo que se refere a esoterismo, magia, wicca… espelhos. O Soneto que me trouxe aqui – Cruzadamante – é fantástico. Quando o chamas de soneterótico, sabes o que dizes. Ele é sensual, erótico sem ser vulgar, sedutor, apaixonante. Parabéns pelo trabalho. E como o teu site não dá para apenas “passar” para uma visita, favoritei, para voltar com tempo de ler publicações que me chamaram a atenção. Até a próxima. Um grande beijo. Namastê! Silvia Mendonça

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